sábado, 18 de fevereiro de 2017

A hora de superar Jardel

"O Grêmio ficar contratando tudo quanto é grandalhão pra trombar com os zagueiros adversários, na esperança de repetir Jardel, é o mesmo que o Botafogo sair contratando todos os índios de pernas tortas na esperança de repetir Garrincha. Não vai dar certo."
Ricardo A
Ricardo A é um colaborador do blog.Foi o corneteiro que resgatou a história das papoulas.É dele o texto abaixo.

A hora de superar Jardel
O centroavante tradicional já foi muito importante na história do Grêmio. Arrisco dizer que continuará sendo. Sempre haverá uma ocasião em que um grandalhão dentro da área poderá surtir efeito quando a bola rasteira não funcionar.
Fora os aspectos técnicos e táticos, o imaginário também alimenta as fantasias de que um time campeão começa com um centroavante de área. São inúmeros os momentos de conquista tricolor que contam com a participação fundamental de um camisa 9 de carteirinha.
No entanto, não devemos imaginar que todas as nossas conquistas deveram-se única e exclusivamente por termos tido um centroavante trombando lá na frente. Basta lembrarmos os ataques titulares dos nossos últimos títulos nacionais (As CsB 2001/2016 e o Brasileirão de 96). Luis Mário/Marcelinho Paraíba, P.Rocha/Luan e Paulo Nunes/Zé Alcino. A participação de Zé Afonso no gol do título de 96 serve para comprovar o que disse acima: sempre haverá uma ocasião em que um grandalhão dentro da área poderá surtir efeito quando a bola rasteira não funcionar.
O mais raro exemplar da espécie dos centroavantes que apareceu por aqui atendia pelo nome de Jardel. Fez sucesso aqui e na Europa. Não é preciso enumerar seus feitos e suas médias absurdas de gols. Não jogava nada, mas a bola batia nele e entrava. Simples assim. 
O problema é que nosso imaginário nos tornou reféns de Jardel. Depois dele, vários centroavantes passaram pela Azenha e pelo Humaitá, sem chegar perto do sucesso obtido pelo “Cearense Voador”. Alguns bons, outros nem tanto. Rapidamente me recordo de nomes como Washington e Christian. Bons centroavantes, mas não eram Jardel. Não restam dúvidas que se um novo Jardel aparecesse, haveria lugar para ele não só no Grêmio, mas em praticamente qualquer time do mundo.
No entanto, ficar perseguindo um novo Jardel não faz sentido. Um Jardel surge por obra do acaso. O Grêmio ficar contratando tudo quanto é grandalhão pra trombar com os zagueiros adversários, na esperança de repetir Jardel, é o mesmo que o Botafogo sair contratando todos os índios de pernas tortas na esperança de repetir Garrincha. Não vai dar certo.
Não podemos perder outros 15 anos procurando um novo Jardel enquanto o trem da história passa ao largo. O futebol mudou. E continuará mudando. Pode ser que daqui a 20 anos o centroavante se reinvente e volte a ser fundamental em um time, mas não é o que se vê nas melhores equipes do mundo atualmente.
Jogar retrancado, pelo empate, com o regulamento embaixo do braço, especulando um gol de cabeça eventual de um centroavante, é assumir o papel de Davi contra Golias. Por mais bonito e marcante que seja, acontece uma vez em um milhão. E eu prefiro ganhar 999.999 vezes a ganhar uma vez de forma bonita. Prefiro ser o Golias.
Adorei ter tido um jogador como Jardel no Grêmio. Mas a era dos centroavantes parece ter passado. Devemos superar isso. Apesar das resistências, estamos com uma rara possibilidade de afirmarmos no time a ideia de um futebol moderno, aplicando conceitos utilizados nas melhores equipes do mundo, e dessa forma entrarmos definitivamente no século XXI. Porque o tempo passa e atropela aqueles que ficam parados, tal qual um centroavante rompedor fazendo um gol de cabeça entre zagueiros adversários.
Ricardo A